quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Sistemas Aumentativos e Alternativos de Comunicação



























Quando a fala não pode ser um veículo da linguagem torna-se fundamental proporcionar, o mais precocemente possível, um sistema alternativo ou aumentativo de comunicação.
Segundo Tetzchner e Martinsen (2000, p. 22), a “Comunicação alternativa é qualquer forma de comunicação diferente da fala e usada por um indivíduo em contextos de comunicação frente a frente. Os signos gestuais e gráficos, o código Morse, a escrita, etc., são formas alternativas de comunicação para indivíduos que carecem da capacidade de falar”. Assim, quando a expressão oral é praticamente inexistente, os meios alternativos de comunicação substituem a fala.
Os mesmos autores referem que a “Comunicação aumentativa significa comunicação complementar ou de apoio. A palavra ‘aumentativa’ sublinha o facto de o ensino das formas alternativas de comunicação ter um duplo objetivo: promover e apoiar a fala e garantir uma forma de comunicação alternativa se a pessoa não aprender a falar” (Ibidem). Portanto, quando a expressão oral está presente mas revela-se insuficiente ou difícil de compreender, os meios aumentativos vão compensar as dificuldades através de um reforço visual, tático ou cinestésico, aumentando e completando deste modo as capacidades existentes.
Os sistemas de comunicação aumentativa e alternativa proporcionam, no essencial, um meio provisório para comunicar até que a fala se torne funcional, um meio permanente para comunicar quando a aquisição da fala se revela impossível, e um meio facilitador do desenvolvimento da fala.
De acordo com a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), os sistemas aumentativos e alternativos compreendem os sistemas sem ajuda e os sistemas com ajuda.
Relativamente aos sistemas de comunicação sem ajuda, eles referem-se a todas as formas de comunicação que não estão dependentes de qualquer ajuda técnica, sendo algumas partes do corpo o veículo para transmitir a mensagem (piscar o olho, aponta, abanar a cabeça para dizer sim ou não).
Os sistemas com ajuda implicam a utilização de um suporte físico tais como sintetizadores de fala, tabelas de comunicação, entre outros, sendo que neste caso não é o utilizador que produz os símbolos, mas antes seleciona-os através dos vários dispositivos (Gericota, 1995; Ferreira, Ponte & Azevedo, 1999). A propósito dos sistemas com ajuda, Basil (2004, p. 226) refere ainda que estes “são os que se aplicam mais comummente a pessoas com afeções motoras, visto que elas costumam ter dificuldades em produzir sinais manuais”.
No momento de escolhermos um sistema aumentativo ou alternativo de comunicação, devemos ter em conta determinados critérios, escolhidos com base numa avaliação cuidadosa de quem os vai utilizar. Essa avaliação deverá ser feita numa fase inicial, mas também durante a implementação e o uso do sistema, já que qualquer utilizador poderá estar em constante evolução, podendo ser necessário misturar ou combinar os vários sistemas aumentativos ou alternativos (Tetzchner & Martinsen, 1993). De igual modo, o processo de avaliação deverá basear-se essencialmente naquilo que o utilizador é capaz de fazer ou poderá vir a fazer.
Sistemas gráficos:
Alguns sistemas gráficos como o Bliss, o PIC e o SPC conheceram um desenvolvimento exponencial sobretudo a partir dos anos 80.
O Sistema Bliss foi criado por Charles Bliss em 1949 e “utiliza a imagem na sua característica mais essencial, isto é, na sua representação simbólica” (Chaves, Coutinho & Dias, 1993, p. 60). Este sistema é formado por 100 símbolos, símbolos esses que podem ser Pictográficos, Ideográficos e Arbitrários (Ibidem). Na tabela na página a seguir podemos ver três exemplos desses símbolos:





Este sistema reveste-se de alguma complexidade e, apesar de ter sido o primeiro sistema gráfico a ser usado em vários países, a sua utilização tem vindo a decrescer devido à dificuldade manifestada por muitos utilizadores (Tetzchner & Martinsen, 1993).
Toscano (1991, p. 154) refere também que “os símbolos Bliss necessitam de ser apontados de qualquer forma”, e no caso das crianças que não falam por vezes a sua deficiência é tão grave que não têm sequer a capacidade de apontar com a mão. Assim, a autora conclui que, a introdução destes símbolos em crianças que não falam, “não é a chave para a comunicação de todas elas” (Ibidem).
O Sistema PIC (Pictogram Ideogram Communication) foi criado no Canadá por Subhas Maharaj e “consiste em desenhos estilizados que formam silhuetas brancas sobre um fundo preto” (Idem, p. 28). Podemos ver alguns exemplos na figura a seguir:









O Sistema SPC (Símbolos Pictográficos para a Comunicação) foi adotado nos anos 90 em Portugal e está hoje amplamente divulgado entre os utilizadores de Comunicação Aumentativa. Conta com cerca de 3000 símbolos sendo estes “desenhos de linhas simples a preto, sobre fundo branco, e a palavra está escrita sobre o desenho” (Ibidem). No entanto, o fundo pode ser de outra cor quer se trate de substantivos, verbos e adjetivos (Gericota, 1995).
A escolha do sistema de signos deverá ser feita com base “nas características motoras e perceptivas do indivíduo” (Tetzchner & Martinsen (2000, p. 35). Não podemos esquecer que os signos gráficos são selecionados, enquanto que os signos gestuais são produzidos (Idem, p. 36).

Núcleo de Formação do Centro BSAG

Referências Bibliográficas:

BASIL, Carmen (2004). Os alunos com paralisia cerebral: desenvolvimento e educação. In César Coll, Jesús Palacios & Alvaro Marechesi (2.ª Ed.). Desenvolvimento Psicológico e Educação: Necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar (vol. 3). Porto Alegre: Artmed Editora S.A..

CHAVES, José Henrique; COUTINHO, Clara Pereira; DIAS, Manuela (1993). A imagem no ensino de crianças com necessidades educativas especiais. Revista Portuguesa de Educação, 6 (3), 57-66.

FERREIRA, Maria Carlota; PONTE, Maria Margarida; AZEVEDO, Luís Manuel (1999). Inovação curricular na implementação de meios alternativos de comunicação em crianças com deficiência neuromotora grave. Lisboa: SNRIPD.

GERICOTA, Manuel (1995). Ajudas técnicas à comunicação para pessoas com paralisia cerebral. Disponível em Biblioteca Digital: http://portal.ua.pt/bibliotecad consultado em 13 de janeiro de 2016.

TETZCHNER, Stephen von; MARTINSEN, Harald (1993). Introducción a la ensenãnza de signos e al uso de ayudas técnicas para la comunicación. Madrid: Visor Distribucciones, S.A.

TETZCHNER, Stephen von; MARTINSEN, Harald (2000). Introdução à Comunicação Aumentativa e Alternativa. Tradução de Ana André. Porto: Porto Editora.

TOSCANO, Rosário (1991). Sistema de Comunicação Bliss. In IV Encontro Nacional de Educação Especial – Comunicações. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.




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