segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

As Tecnologias de Informação e Comunicação na Escola

















A educação sendo essencialmente a transmissão de valores, necessita do testemunho de valores em presença. Por isso, os meios de comunicação e a tecnologia não podem substituir o professor” (Gadotti, 1994). 


É inquestionável o facto de que vivemos numa sociedade cada vez mais tecnológica e que caminha rumo a mudanças constantes e aceleradas. A sociedade da informação trouxe consigo novos desafios às pessoas que reconhecem, ainda que por vezes tacitamente, o papel importantíssimo das novas tecnologias nas suas vidas. As pessoas “respiram” tecnologia. Desde o uso banal do telemóvel até à utilização de aparelhos mais sofisticados e complexos, quase já ninguém duvida da eficácia destas novas tecnologias. 
Do mesmo modo, os avanços tecnológicos vieram proporcionar à Escola novos recursos. O uso da Informática na Educação, nomeadamente através do uso generalizado do computador, colocou novos desafios à Escola e exigiu dos professores uma permeabilidade relativamente a novas e diversificadas metodologias. Por um lado, a Escola deverá estar equipada com recursos tecnológicos que favoreçam ambientes de aprendizagem estimulantes; por outro lado, os professores deverão possuir competências ao nível destas tecnologias emergentes. Lagarto (2007, p. 11), no seu artigo intitulado “A Escola, a Sociedade da Informação e as TIC” refere que “o trabalho com ferramentas informáticas obrigará a novas abordagens estratégicas, ainda que dos mesmos programas e currículos”, mas a verdadeira questão que se coloca é a de saber de que forma a Escola responderá a este desafio, e se os professores estarão ou não recetivos a esta cultura tecnológica. As mudanças ocorridas nos últimos anos no ensino e na aprendizagem têm vindo a evoluir, de acordo com Costa (2007, p. 16) “em direcção a uma perspectiva construtivista da aprendizagem que prevalece hoje, pelo menos em termos retóricos”, e a qual todos nós defendemos. Todavia, parece que essa perspetiva não tem vindo a determinar a prática pedagógica no que toca ao uso das tecnologias (Idem, p. 17).
Muito se tem dito, para o bem e para o mal, acerca destas questões. Papert (1997, p. 205), um dos maiores visionários do uso do computador em contextos educativos, refere, a propósito da revolução tecnológica na educação, que “a Escola mantém-se, nos seus aspectos essenciais, muito semelhante ao que sempre foi”.
Pôr de lado práticas pedagógicas marcadamente conservadoras que enfatizam “a transmissão, a linguagem, a cópia da cópia, onde conteúdos e informações são passados directamente do professor para o aluno, mediante um processo reprodutivo” (Moraes, 2005, pp. 36-37) implica uma profunda alteração na forma de pensar e viver o ensino e a aprendizagem, e implica sobretudo pôr de lado a figura do magister dixit. Não poderíamos estar mais de acordo com Carraher (1992, p. 23) quando, a propósito da educação tradicional versus educação moderna, refere que “a aprendizagem não precisa ser um processo doloroso”. Para o autor, o professor moderno é aquele que fica encantado com os erros das crianças porque, segundo ele, os “erros das crianças são coisas preciosas” (Ibidem).
Vivemos numa era marcada pela interação decorrente da combinação de voz, imagens e textos. Trata-se de uma nova realidade à qual ninguém fica indiferente. O aluno, enquanto ser social, é único e possui diferentes estilos de aprendizagem. Importa reconhecer a importância da criação de espaços que levem o aluno a refletir acerca daquilo que aprendeu, para que o mesmo se possa libertar de uma educação castradora e fechada, e para que haja “um novo diálogo entre mente e corpo, sujeito e objecto, consciente e inconsciente, interior e exterior, indivíduo e o seu contexto, o ser humano e o mundo da natureza” (Moraes, 2005. p. 37).
De acordo com Papert, “todas as crianças que têm em casa um computador e uma forte cultura de aprendizagem são agentes de mudança na escola” (Papert, 1997, p. 223). Com efeito, as crianças lidam com as tecnologias com grande destreza, e não é difícil ouvirmos os pais dizerem que “parece que já nascem ensinados”. Ensinados ou não, certo é que parece haver, de facto, “um apaixonado caso de amor entre crianças e computadores” (Idem, p. 21).
Ainda na linha de pensamento deste autor, o uso do computador e de todos os recursos que lhe são inerentes podem proporcionar espaços de construção do conhecimento e da aprendizagem, num ambiente colaborativo e atendendo às diferenças individuais de cada aluno. Para que isto aconteça, impõe-se uma mudança de atitude por parte dos professores e dos profissionais ligados à educação, que deverão incluir nas suas práticas todos os recursos disponíveis, incluindo o computador.
Ensinar com recursos tecnológicos, nomeadamente com o computador, pressupõe, por um lado, uma prática planeada e distante das vias tradicionais e, por outro, uma prática reconstrutora do currículo. Caberá, assim, ao professor fazer um uso correto desses recursos numa Escola que se deseja mais “atraente”:

Fazer da Escola um lugar mais atraente para os alunos e fornecer-lhes as chaves para uma compreensão verdadeira da sociedade de informação. Ela tem de passar a ser encarada como um lugar de aprendizagem em vez de um espaço onde o professor se limita a transmitir o saber ao aluno; deve tornar-se num espaço onde são facultados os meios para construir o conhecimento, atitudes e valores e adquirir competências. Só assim a Escola será um dos pilares da sociedade do conhecimento. (Livro Verde Para a Sociedade da Informação, 1997, p. 43)


Núcleo de Formação do Centro BSAG



Referências Bibliográficas:
CARRAHER, David William (1992). Educação tradicional e educação moderna. In Terezinha Nunes Carraher (Org.). Aprender pensando. Contribuições da psicologia cognitiva para a educação (pp. 12-30). Rio de Janeiro: Editora Vozes.
COSTA, Fernando Albuquerque; PERALTA, Helena; VISEU, Sofia (Org.) (2007). As TIC na educação em Portugal. Concepções e práticas. Porto: Porto Editora.
GADOTTI, Moacir (1994). A Escola e a Pluralidade dos meios. In Revista Escola e Comunicação, n.º 6. Rio de Janeiro.
LAGARTO, José Reis (2007). A Escola, a sociedade da informação e as TIC. In José Reis Lagarto (Org.). Na rota da sociedade do conhecimento. As TIC na escola (pp. 7-13). Lisboa: Universidade Católica Editora.
Livro Verde Para a Sociedade da Informação em Portugal (1997). Disponível em Missão para a Sociedade da Informação: http://www.missao-si.mct.pt.  
MORAES, Maria Cândida (2005). Paradigma educacional emergente. In Ricardo Vidigal da Silva & Anabela Vidigal da Silva (Org.). Educação, aprendizagem e tecnologia. Um paradigma para professores do século XXI. Lisboa: Edições Sílabo.
PAPERT, Seymour (1996). A família em rede. Lisboa: Relógio d’Água Editores.



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