“A educação sendo
essencialmente a transmissão de valores, necessita do testemunho de valores em
presença. Por isso, os meios de comunicação e a tecnologia não podem substituir
o professor” (Gadotti, 1994).
É
inquestionável o facto de que vivemos numa sociedade cada vez mais tecnológica
e que caminha rumo a mudanças constantes e aceleradas. A sociedade da
informação trouxe consigo novos desafios às pessoas que reconhecem, ainda que
por vezes tacitamente, o papel importantíssimo das novas tecnologias nas suas
vidas. As pessoas “respiram” tecnologia. Desde o uso banal do telemóvel até à
utilização de aparelhos mais sofisticados e complexos, quase já ninguém duvida
da eficácia destas novas tecnologias.
Do
mesmo modo, os avanços tecnológicos vieram proporcionar à Escola novos
recursos. O uso da Informática na Educação, nomeadamente através do uso
generalizado do computador, colocou novos desafios à Escola e exigiu dos
professores uma permeabilidade relativamente a novas e diversificadas
metodologias. Por um lado, a Escola deverá estar equipada com recursos
tecnológicos que favoreçam ambientes de aprendizagem estimulantes; por outro
lado, os professores deverão possuir competências ao nível destas tecnologias
emergentes. Lagarto (2007, p. 11), no seu artigo intitulado “A Escola, a
Sociedade da Informação e as TIC” refere que “o trabalho com ferramentas
informáticas obrigará a novas abordagens estratégicas, ainda que dos mesmos
programas e currículos”, mas a verdadeira questão que se coloca é a de saber de
que forma a Escola responderá a este desafio, e se os professores estarão ou
não recetivos a esta cultura tecnológica. As mudanças ocorridas nos últimos
anos no ensino e na aprendizagem têm vindo a evoluir, de acordo com Costa
(2007, p. 16) “em direcção a uma perspectiva construtivista da aprendizagem que
prevalece hoje, pelo menos em termos retóricos”, e a qual todos nós defendemos.
Todavia, parece que essa perspetiva não tem vindo a determinar a prática
pedagógica no que toca ao uso das tecnologias (Idem, p. 17).
Muito
se tem dito, para o bem e para o mal, acerca destas questões. Papert (1997, p.
205), um dos maiores visionários do uso do computador em contextos educativos,
refere, a propósito da revolução tecnológica na educação, que “a Escola
mantém-se, nos seus aspectos essenciais, muito semelhante ao que sempre foi”.
Pôr
de lado práticas pedagógicas marcadamente conservadoras que enfatizam “a
transmissão, a linguagem, a cópia da cópia, onde conteúdos e informações são
passados directamente do professor para o aluno, mediante um processo
reprodutivo” (Moraes, 2005, pp. 36-37) implica uma profunda alteração na forma
de pensar e viver o ensino e a aprendizagem, e implica sobretudo pôr de lado a
figura do magister dixit. Não
poderíamos estar mais de acordo com Carraher (1992, p. 23) quando, a propósito
da educação tradicional versus
educação moderna, refere que “a aprendizagem não precisa ser um processo
doloroso”. Para o autor, o professor moderno é aquele que fica encantado com os
erros das crianças porque, segundo ele, os “erros das crianças são coisas
preciosas” (Ibidem).
Vivemos
numa era marcada pela interação decorrente da combinação de voz, imagens e
textos. Trata-se de uma nova realidade à qual ninguém fica indiferente. O
aluno, enquanto ser social, é único e possui diferentes estilos de
aprendizagem. Importa reconhecer a importância da criação de espaços que levem
o aluno a refletir acerca daquilo que aprendeu, para que o mesmo se possa libertar
de uma educação castradora e fechada, e para que haja “um novo diálogo entre
mente e corpo, sujeito e objecto, consciente e inconsciente, interior e
exterior, indivíduo e o seu contexto, o ser humano e o mundo da natureza”
(Moraes, 2005. p. 37).
De
acordo com Papert, “todas as crianças que têm em casa um computador e uma forte
cultura de aprendizagem são agentes de mudança na escola” (Papert, 1997, p.
223). Com efeito, as crianças lidam com as tecnologias com grande destreza, e
não é difícil ouvirmos os pais dizerem que “parece que já nascem ensinados”.
Ensinados ou não, certo é que parece haver, de facto, “um apaixonado caso de amor
entre crianças e computadores” (Idem, p. 21).
Ainda na linha de pensamento deste autor, o uso do
computador e de todos os recursos que
lhe são inerentes podem proporcionar espaços de construção do conhecimento e da
aprendizagem, num ambiente colaborativo e atendendo às diferenças individuais
de cada aluno. Para que isto aconteça, impõe-se uma mudança de atitude por parte
dos professores e dos profissionais ligados à educação, que deverão incluir nas
suas práticas todos os recursos disponíveis, incluindo o computador.
Ensinar
com recursos tecnológicos, nomeadamente com o computador, pressupõe, por um
lado, uma prática planeada e distante das vias tradicionais e, por outro, uma
prática reconstrutora do currículo. Caberá, assim, ao professor fazer um uso
correto desses recursos numa Escola que se deseja mais “atraente”:
Fazer da Escola um lugar mais atraente para os
alunos e fornecer-lhes as chaves para uma compreensão verdadeira da sociedade
de informação. Ela tem de passar a ser encarada como um lugar de aprendizagem
em vez de um espaço onde o professor se limita a transmitir o saber ao aluno;
deve tornar-se num espaço onde são facultados os meios para construir o
conhecimento, atitudes e valores e adquirir competências. Só assim a Escola
será um dos pilares da sociedade do conhecimento. (Livro Verde Para a Sociedade
da Informação, 1997, p. 43)
Núcleo de Formação do
Centro BSAG
Referências Bibliográficas:
CARRAHER, David William (1992). Educação tradicional e
educação moderna. In Terezinha Nunes Carraher (Org.). Aprender pensando.
Contribuições da psicologia cognitiva para a educação (pp. 12-30). Rio de
Janeiro: Editora Vozes.
COSTA, Fernando Albuquerque; PERALTA, Helena; VISEU,
Sofia (Org.) (2007). As TIC na educação em Portugal. Concepções e práticas.
Porto: Porto Editora.
GADOTTI, Moacir (1994). A Escola e a Pluralidade dos
meios. In Revista Escola e Comunicação, n.º 6. Rio de Janeiro.
LAGARTO, José Reis (2007). A Escola, a sociedade da
informação e as TIC. In José Reis Lagarto (Org.). Na rota da sociedade do
conhecimento. As TIC na escola (pp. 7-13). Lisboa: Universidade Católica
Editora.
Livro Verde Para a Sociedade da Informação em Portugal
(1997). Disponível em Missão para a Sociedade da Informação:
http://www.missao-si.mct.pt.
MORAES, Maria Cândida (2005). Paradigma educacional
emergente. In Ricardo Vidigal da Silva & Anabela Vidigal da Silva (Org.).
Educação, aprendizagem e tecnologia. Um paradigma para professores do século
XXI. Lisboa: Edições Sílabo.
PAPERT, Seymour (1996). A família em rede. Lisboa: Relógio d’Água Editores.

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